Anos de Chumbo

Era uma noite fria de setembro de 1965, anos negros,
tudo estava quieto, menos minha cabeça que rodava...

A vida estava ferrada naquela minha sofrida geração,
continuava pensando, mesmo estando bêbado e perdido...

Eu não conseguia me localizar, mas isto não importava,
mesmo em minha cama eu estaria definitivamente perdido...

Ah... Maldita ditadura que infernizava a minha vida,
como se pode ficar sóbrio quando tantos estão sofrendo?

Naquela tarde havia lido nas entrelinhas dos jornais,
pessoas inocentes eram presas, torturadas, assassinadas...

De repente surgiu um guarda me expulsando, aos gritos,
de meu degrau nas escadarias da Catedral de Petrópolis...

Ah... Pobre coitado, pagou por todos os males militares,
saltei sobre ele como um leão, rugindo os meus direitos...

Ele se acovardou perante um baixinho fraco, mas furioso,
e se retirou gritando ameaças idiotas que não me abalaram...

Depois me deitei pensando, às vezes precisamos reagir,
talvez um grito não resolva, mas milhões de gritos sim...

Dormi como um anjo sobre nuvens do mais puro algodão.
amanhã será um novo dia, um bom dia para começar a gritar...